A certeza e a incerteza das tecnologias emergentes (e por que isso importa muito mais do que parece)
Vivemos um momento curioso na história da tecnologia. De um lado, o mundo nunca falou tanto em Inteligência Artificial. Do outro, empresas globais inclusive gigantes que lideraram a inovação por décadas estão fechando laboratórios, encerrando pesquisas, reorganizando investimentos e redesenhando estratégias.
Recentemente, a própria IBM desativou seu laboratório de pesquisa no Brasil após quase 15 anos, apesar de toda a competência técnica local. Isso deixou uma pergunta no ar:
Se até gigantes consolidadas estão redesenhando suas apostas em IA, o que dizer de nós?
Ou seja: tecnologia emergente sempre nasce com enorme promessa, mas também com enorme incerteza.

O hype não garante sobrevivência
Tem um número circulando no mercado dizendo que 85% das startups baseadas em IA podem desaparecer nos próximos anos. Não importa se esse número é 80 ou 90 — a mensagem é clara:
a promessa não significa sustentação.
E aqui mora o perigo: Empresas entram em hype, investem pesado, contratam, licenciam soluções caríssimas… mas esquecem de uma pergunta fundamental:
Qual dor interna isso resolve hoje?
Talvez o problema não seja IA seja processo
Antes de perguntar “qual IA devo implementar?”, empresas deveriam perguntar:
- o que dentro da minha operação me impede de escalar?
- onde estão os gargalos reais?
- o que causa retrabalho, custo operacional, baixa produtividade?
- como estão minhas integrações?
- os dados estão disponíveis?
- e principalmente: estou resolvendo um problema real ou comprando um discurso bonito?
Muitas vezes, o mais transformador não é uma IA super avançada, mas algo bem mais básico:
- organizar dados,
- revisar rotina,
- integrar sistemas,
- automatizar fluxos operacionais simples,
- padronizar processos,
- medir o que ninguém mede.
Investir em incerteza pode sair muito caro
Empresas no Brasil têm um desafio adicional: não existe capital abundante como nos Estados Unidos, e o custo de erro tecnológico aqui é muito maior.
Quando alguém fala:
“Investe porque todo mundo está fazendo!”
Eu prefiro devolver: E o seu problema interno, está resolvido?
O que vemos no mundo é uma virada
O jogo mudou. Agora a questão não é:
Quem investe em IA?
Mas sim:
Quem está conseguindo transformar tecnologia em resultado mensurável?
E essa resposta nunca nasce de hype. Ela nasce de diagnóstico, cultura de dados e estratégia de longo prazo.
No fim, tecnologia não é sobre o futuro. É sobre o presente.
Eu acredito que inovação verdadeira começa com uma pergunta simples:
O que dói agora?
Porque tecnologia não serve para impressionar PowerPoint — serve para:
- economizar tempo,
- reduzir custos,
- aumentar produtividade,
- melhorar cuidado,
- transformar a vida das pessoas.
Se não entrega valor real, é só marketing.
E marketing não escala.
No Brasil, quem sobreviverá?
Na minha visão, sobrevivem:
- empresas que resolvem problema real
- times que entendem a jornada operacional
- tecnologias que nascem da dor
- plataformas que integram (e não isolam)
- estratégias que não gastam energia com o “novo”, mas com o “necessário”
Inovar não é inventar o futuro. É fazer o presente funcionar.
E isso, sim, gira o teto.