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MIT Technology Review -Startups Mindscape 2024

MIT Google Jihan Zoghbi
A MIT Technology Review Brasil e o Google Cloud escutaram fundadores de startups em diferentes níveis de maturidade para compreender, de fato, o que há de mais desafiador em suas jornadas.

Jihan Zoghbi tinha 29 anos e estava estudando computação quando viu seu irmão morrer de câncer. Ele descobriu a doença ainda jovem, mas não cedo o suficiente para que pudesse ser revertida. Foi após esse evento traumático que a cientista da computação e, hoje, CEO da startup Dr. TIS decidiu que direcionaria seu trabalho em prol da humanização da tecnologia em saúde. Atualmente sua empresa
desenvolve sistemas para médicos e instituições, o que inclui telemedicina, uma central de exames e laudos, além de tecnologia de ponta com foco em atender as necessidades de saúde do mercado de forma humanizada.

Eu queria democratizar a tecnologia, porque meu trabalho sempre foi sobre propósito, nunca sobre dinheiro”,

conta a empresária. O insight veio quando ela estava visitando a maior feira de radiologia do Brasil, em São Paulo, e percebeu que todos os softwares de imagens médicas eram importados, o que encarece a tecnologia e a torna menos acessível. A partir daí, a libanesa iniciou o desenvolvimento de sua própria plataforma de imagens médicas na nuvem

A história de Zoghbi pode soar parecida com a de milhares de outros empreendedores pelo Brasil, cuja motivação parece vir de um propósito maior, frequentemente relacionado a tornar o mundo um
lugar melhor, e não é coincidência. A MIT Technology Review Brasil, em parceria com o Google Cloud, escutou mais de 100 fundadores de startups em um levantamento inédito, o Startups Mindscape 2024, para entender melhor as motivações e angústias desses empreendedores. Mais da metade deles (51%) revelou que sua principal motivação ao iniciarem seus negócios foi a vontade de mudar o mundo.

Apenas 14,4% disseram que a motivação foi o desejo de ser dono do próprio negócio; seguido pelo desejo de desafiar os próprios limites e por ter enxergado oportunidades a partir de falhas no emprego anterior, ambos com 13,5%. Dos mais de 100 founders entrevistados, somente 1,9% apontou o dinheiro como uma motivação para criar o
seu negócio.

Você tem que adorar o jogo. Tem que fazer isso por muito mais do que ganhar dinheiro. Deve haver uma missão maior que essa.”

Bill Aulet, diretor administrativo do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship

Cabe destacar que, do ponto de vista da motivação, existem duas classificações de perfis empreendedores predominantes no mercado, como explica o professor Tales Andreassi, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP): “há os que empreendem por necessidade — por causa do desemprego, para fazer renda extra — e há aqueles que empreendem por oportunidade, porque observam uma brecha no mercado”. Os founders que iniciam seus negócios para “mudar o mundo” não são aqueles que empreendem por necessidade, eles não enxergam o retorno financeiro como um fator principal, mas são pessoas que encontram brechas de oportunidade no mercado e as aproveitam para causarem o impacto que desejam.

“Você tem que adorar o jogo. Tem que fazer isso por muito mais do que ganhar dinheiro. Deve haver uma missão maior que essa”, concorda Bill Aulet, diretor administrativo do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship e professor de práticas de empreendedorismo na MIT Sloan School of Management e no MIT Sloan Executive. Fundar uma startup não é mesmo o caminho mais curto para quem tem como propósito principal o retorno financeiro, pelo menos não no curto prazo. A maioria dos founders escutados no levantamento relatam que levaram meses ou anos até que o negócio deixasse de dar apenas despesas.

Isso não quer dizer que a questão financeira não seja uma preocupação — na verdade, ela é uma das principais, tanto para os fundadores que estão em processo de amadurecimento quanto para os que estão escalando, como também aponta o Startup Mindscape 2024. No entanto, um propósito ligado a um valor pessoal e que reverbera em benefícios para a comunidade em torno é a resposta da maioria.

Isso também não é coincidência. Essa vontade de mudar o mundo está intimamente relacionada com um arquétipo popular no imaginário coletivo: de que empreendedores são pessoas, de alguma forma, acima da média, mais inteligentes, mais criativas, mais capazes de enfrentar as adversidades e ainda lucrarem com isso.

No livro “Espírito empreendedor nas organizações”, o autor Marcos Hashimoto — doutor e mestre em Administração de Empresas pela FGVEAESP — explica que essa construção cultural pode ser atribuída à recessão do mercado e à ascensão do empreendedorismo como motor da economia no final da década de 80 no Brasil. Algo muito semelhante ocorreu também nos Estados Unidos a partir de 1975, após a crise no mercado norte-americano, quando as demissões em massa e a reestruturação de grandes corporações deixou milhões de desempregados.

Desempregados esses dos quais muitos, depois, se tornaram empreendedores, geraram empregos para outros milhões e deram novos rumos ao mercado. Assim, estava criada a ideia quase mítica da figura empreendedora.

Eles são os inovadores, solucionadores de problemas e propulsores da economia quando mais precisamos, gerando empregos e criando novos produtos e serviços para o mercado.

No Brasil, com um ambiente empresarial hostil na maior parte do tempo, especialmente para os pequenos negócios, esse arquétipo é frequentemente evocado. Basta fazer uma rápida pesquisa no Google: “empreendedor” ou “pessoa de negócios” e essa figura saltará em sua tela em milhares de imagens semelhantes — postura ereta, às vezes com braços cruzados, queixos erguidos, olhares altivos e sorrisos extremamente confiantes no rosto. Frequentemente,
esse combo ainda incluirá um foco de luz ofuscante ao fundo, recurso muito utilizado no audiovisual para destacar personagens fantásticos ou míticos. Isso não é um acaso, mas uma construção: empreendedores são super empreendedores.

Por isso, quando escutamos falar sobre o sucesso de uma empresa, como a startup Dr. TIS, de Jihan Zoghbi, que cresceu mais de 300% na pandemia, queremos saber quem é a mente brilhante por trás do negócio e o que ela fez para alcançar esse resultado. Apesar de triste, a história que motivou a criação de sua startup serve de inspiração para milhares de outros empreendedores e, frequentemente, é ilustrada como uma jornada de superação.

No entanto, histórias como essa também possuem um lado B. Na mesma medida em que eles se apresentam como solucionadores de problemas, inovadores e brilhantes, uma série de desafios são superados nos bastidores: a dificuldade de equilibrar a vida pessoal e o cuidado com a saúde, e ainda as questões relacionadas à infraestrutura do negócio, como acesso a financiamento, somados ao medo de perder o controle sobre a empresa, entre várias outras preocupações.

O lado glamuroso dessas histórias é conhecido (e reconhecido) por todos, enquanto o lado menos charmoso — não tão exposto —, traz consigo desafios específicos para os quais nem sempre se dá a devida atenção. Por isso, o objetivo da investigação da MIT Technology Review Brasil em parceria com o Google Cloud, que reuniu mais de 100 founders no Brasil em diferentes estágios de maturidade e segmentos, foi entender quais são esses desafios.

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