Jihan Zoghbi, libanesa que vive no Brasil desde os anos 1990, é fundadora da Dr. TIS, healthtech que oferece sistemas white-label de telemedicina para hospitais, médicos e operadoras de saúde
Publicado originalmente no portal Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
Foi em razão de uma bolsa para estudar medicina e matemática que a libanesa Jihan Zoghbi deixou a aldeia onde morava – e foi uma das primeiras mulheres a fazê-lo. Ela teve a chance de estudar na Universidade Americana de Beirute, uma das mais importantes do país e do Oriente Médio. No curso, ainda nos anos 1990, conheceu um médico brasileiro e se casou. Ao chegar no Brasil, seguiu com os estudos, fazendo mestrado e doutorado no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo.
O foco da atuação era ciência da computação. Em 2016, percebeu que poderia unir a matemática, a especialização em machine learning do doutorado e a vivência no mundo da saúde para empreender.
Naquele mesmo ano, tirou do papel a healthtech Dr. TIS, uma plataforma de imagens médicas, telerradiologia e interconsultas (uma espécie de telemedicina entre médicos). A proposta da empresa era usar a computação em nuvem para gerenciamento de procedimentos e pacientes.
De maneira simples, a startup permitia que o raio-X do paciente se transformasse em um arquivo na nuvem, a ser acessado quando ele quisesse e por qualquer hospital, clínica ou operadora de saúde, sem a necessidade de um novo exame ou impressão da imagem.
Assim, a plataforma SaaS (software as a service) caminhou até 2020, quando a pandemia chegou no Brasil. Naquele momento, conta a empreendedora, foi preciso aproveitar a tecnologia embarcada na startup para adaptar a solução e focar na telemedicina. Como a prática foi aprovada em caráter de emergência para todas as áreas da saúde ainda em abril de 2020, Zoghbi realocou 75% do time para aproveitar as possíveis demandas.
A solução foi desenvolver uma plataforma white-label para hospitais, operadoras de saúde e médicos autônomos. O primeiro cliente dessa nova fase foi Hospital Moinhos de Vento. “É um hospital renomado que se tornou um case de sucesso dentro da empresa”, diz a empreendedora a PEGN.
Entre março e dezembro de 2020, o número de contratos passou de 50 para 140 – sendo pelo menos 70 deles fechados com entidades de grande porte, como HCor, Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Centro de Reabilitação do Sírio Libanês e Santa Casa de Curitiba. “Em termos de desafio tecnológico, a mudança foi fácil. O mais difícil foi a questão da governança, do suporte e treinamento, porque passamos a fechar grandes contratos em quatro dias, o que não era comum antes da pandemia”, diz.
Em um ano, o negócio cresceu 300%, tornando-se presente em 17 estados brasileiros. Para dar conta, a startup optou por investir capital próprio em contratações no time de vendas, suporte e marketing. Zoghbi conta que chegou a ser procurada por fundos de investimento durante esse período. “Mas optei por focar exclusivamente na operação, porque não conseguiria dar conta de tudo ao mesmo tempo”, afirma.
Em 2021, no entanto, a empreendedora avançou nas negociações da primeira rodada de investimentos da healthtech. Sem revelar o valor ou o investidor, Zoghbi disse que será um aporte pré-seed, que abrirá as portas para um investimento Série A. Com o dinheiro, focará na na expansão dentro dos 17 estados em que o negócio está presente, além dos outros onde a startup ainda não chegou. No médio prazo, vislumbra a expansão internacional, com foco na Europa e no mercado norte-americano. “Um projeto para daqui três anos”, diz.