Na medicina, a inovação e a tecnologia caminham na direção de serviços prestados com mais humanidade. A experiência do paciente é pensada com foco na precisão do diagnóstico, na assertividade do tratamento, na segurança ao longo de todo o processo e no bem-estar durante a recuperação. Nesse sentido, a pandemia do novo coronavírus acelerou o debate sobre uma tendência que já era percebida no Brasil: a integração entre a telemedicina e a atenção domiciliar. Antes utilizadas de forma separada, essas duas frentes unidas formam uma solução para manter atendimentos em saúde sem sobrecarregar o sistema hospitalar brasileiro.
A falta de leitos e as regras impostas pelo distanciamento social trouxeram à tona demandas por alternativas inovadoras no país. Tanto que a telemedicina foi emergencialmente autorizada por meio da Lei 13.989/20, para que profissionais pudessem atuar na assistência, na pesquisa, na prevenção e na promoção da saúde à distância. A regulamentação vigente permite, enquanto durar a pandemia, o acesso ao amparo médico mediado por tecnologia, sem a necessidade de circular por hospitais, clínicas e consultórios.
Mas é certo que essa experiência nacional em telemedicina não será temporária. Retroceder não é uma opção. Será inevitável, no pós-pandemia, regulamentar definitivamente essa prática. Neste contexto, a atenção domiciliar se tornou uma ferramenta decisiva para o cuidado e reabilitação de pacientes infectados pelo novo coronavírus e, em muitos casos, para a manutenção do tratamento de pacientes idosos e pessoas com doenças crônicas fora dos hospitais.
A união entre essas duas modalidades garante uma assistência conveniente e segura para o paciente. Mas, neste momento, o benefício vai além: ajuda a desafogar instituições de saúde superlotadas em tempos de pandemia e evita o agravamento de outras doenças, que poderiam deixar de ser acompanhadas de perto. O sucesso dessa integração remota com o home care só confirma a urgência de popularizar a telemedicina — sempre com atenção às boas práticas. A pandemia deve acabar, mas o sistema de saúde permanecerá com alta demanda, tendo em vista que muitos procedimentos eletivos ficaram represados no último ano. O caminho é longo.
Essa experiência durante a pandemia só faz acelerar o uso conjunto dessas ferramentas. A telemedicina e a atenção domiciliar também podem ser uma resposta para atender a demanda que cresce com a longevidade. Isso porque a população brasileira está vivendo mais. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE detalha que o número de idosos passou de 20,5 milhões, em 2010, para 39 milhões, no ano passado. Ou seja, representavam uma fatia de 10,8% da população brasileira e, agora, esse percentual já passa de 18%.
Além dos idosos, os doentes crônicos — como aqueles com problemas cardiovasculares — e os com câncer poderão se beneficiar do uso conjunto do home care e do atendimento médico remoto. Devido à necessidade contínua de monitoramento e à baixa imunidade, esse público é, muitas vezes, obrigado a evitar deslocamentos para preservar a saúde. Nesses casos, para muitas famílias, a melhor saída é o home care. Consta na Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério da Economia, que metade dos atendimentos domiciliares é feita por enfermeiros e 12% por cuidadores de idosos. E não se pode fechar os olhos para os casos em que os próprios familiares se dedicam exclusivamente aos doentes, por não terem condições de pagar um profissional.
Esse cenário só evidencia que a orientação médica especializada é necessária, para que o atendimento em casa seja mais eficiente e benéfico. A telemedicina pode funcionar como aliada da assistência domiciliar, não apenas por tornar os médicos mais acessíveis, mas também outras especialidades — como enfermagem, fisioterapia, psicologia, nutrição e assistência social —, independentemente da região do país. Além de abranger mais pessoas, é uma forma de auxiliar na agilidade de diagnósticos, permitir o intercâmbio de informações entre profissionais da saúde e evitar idas desnecessárias às emergências.
Cabe, ainda, ressaltar a importância da Telessaúde, que permite que a atenção domiciliar seja mais abrangente.
Desta forma, o gerenciamento do home-care torna-se mais acessível e completo para o paciente que necessita ser acompanhado a longo prazo após o atendimento médico. Alternativas como essa qualificam o resultado e a recuperação de forma mais ágil e segura.
Outro ponto a ser observado é que a regulamentação permanente da telemedicina deve acelerar a modernização das empresas de assistência domiciliar, que passarão a ter seus próprios médicos especialistas para dar apoio às equipes à distância. Atualmente, já é possível proporcionar que a experiência do paciente e do cuidador seja muito semelhante à de uma consulta presencial. Há plataformas white label – ou seja, o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) que adota a tecnologia pode personalizar o ambiente virtual. Acessando com login e senha, o usuário faz agendamentos ou entra em uma fila de espera. A classificação de risco é feita a partir de um questionário personalizado, disponível para o médico.
Nesses casos, todo o atendimento pode ser registrado em um prontuário eletrônico, que permite acompanhar o histórico do paciente. Receitas, atestados e pedidos de exame são feitos online com assinatura eletrônica. Para a instituição que contrata o serviço, um dashboard permite que a coordenação acompanhe o volume de consultas realizadas e agendadas – filtrando-os por especialidade, profissional e tempo médio de atendimento.
Na linha da tecnologia a favor da Saúde
Há também o armazenamento de imagens médicas e exames laboratoriais na nuvem, que permite a integração de informações sobre o paciente, de forma multidisciplinar. Essa é uma solução que precisa ser pensada para atender pessoas de localidades remotas, onde não existe um time completo de profissionais. Neste caso, especialistas das mais diversas áreas conseguem analisar os resultados, orientar e acompanhar o melhor tratamento, sem a necessidade de transportar o paciente por longas distâncias.
A curtíssimo prazo, também será possível contar com monitores de sinais vitais — conhecidos como wearables — ligados à Internet das Coisas — softwares IoTs — e às assistentes virtuais. Quando esse conjunto de ferramentas for conectado às plataformas de telemedicina, permitirão que a assistência domiciliar tome outras proporções. Siri’s ou Alexa’s serão capazes de alertar os cuidadores sobre mudanças repentinas na pressão ou no batimento cardíaco. Poderão, ainda, identificar a necessidade de mudar uma medicação, indicar o encaminhamento do paciente à emergência ou lembrar o horário de uma consulta médica que acontecerá em alguns minutos. Com tantas informações, a inteligência artificial vai processar e gerenciar dados dos pacientes, entregando um panorama completo ao médico que fará a consulta. E auxiliará o cuidador nas tomadas de decisão durante o tratamento.
Conteúdo bônus: Saúde 5.0 X Saúde 4.0: o impacto das inovações tecnológicas na saúde
Todos esses avanços precisam caminhar em uma só direção: a segurança. Tanto em relação à saúde do paciente como no que se refere aos seus dados. O atendimento híbrido, que permite integrar o formato presencial — na primeira consulta — ao home care e à telemedicina, é a saída para garantir resultados satisfatórios, do diagnóstico à recuperação. E não se pode perder de vista a adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). No Brasil, já se trabalha com certificações da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde e Nível de Garantia de Segurança 1 e 2, com toda a confidencialidade necessária.
A história ensina que as dificuldades abrem caminho para evoluir. E, diferentemente do que se testemunhou na Revolução Industrial — quando máquinas substituíram pessoas —, na medicina, avançar significa valorizar o capital humano. É romper fronteiras e aproximar cada vez mais quem precisa de atendimento e quem tem qualificação para prestá-lo, onde quer que esteja. A tecnologia auxilia o profissional no aprimoramento de suas habilidades. O futuro está sendo traçado hoje, e quem ganha é a vida humana.